terça-feira, 8 de maio de 2012

13 de MAIO


                                                                                                                             * Marcelo Pixote Lima

A “LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS”  foi comemorada com muita alegria e festejos no dia 13 de maio 1888, era uma atmosfera de uma grande manifestação popular e isso refletia em grande medida a amplitude social do movimento antiescravista no Brasil. Toda essa movimentação impressionaram os observadores da época pela quantidade de pessoas que ocuparam as ruas. O romancista Machado de Assis recordou que as comemorações que se seguiram à promulgação da Lei Áurea foram “o único delírio popular que me lembro de ter visto”.
Ao analisarmos as leis relacionadas à escravidão no Brasil, vimos que estas não davam condição de liberdade aos negros, uma vez em que a condição que os negros escravizados estavam sendo submetidos era fortemente enraizada no seio de nossa sociedade, as leis se apresentavam como meros paliativos. Senão vejamos:

Lei do Ventre Livre datada de 28 de setembro de 1871 aonde tinha a intensão de libertar os nascidos dessa data em diante, por outro lado mantinha o direito dos senhores ao trabalho dessas crianças por um longo período, podendo esse chegar até aos 21 anos período este mais produtivo por questões físicas.
Lei do Sexagenário de 28 de setembro de 1885 elaborada pelo gabinete do liberal José Saraiva e promulgada pelo gabinete do Conservador Barão de Cotegipe, essa lei decretava a liberdade para uma pequena, quase nula, parcela de negros escravizados, aqueles que detinham mais de 60 anos de idade, só que ainda tinha a condição de um pagamento de indenização para os proprietários, além do trabalho que o escravo agora na condição de “liberto” tinha que prestar na fazenda somando-se mais três anos de dura jornada.
Lei Áurea elaborada pelo gabinete conservador de João Alfredo e sancionada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, essa lei veio a “atender” um contingente de poucos negros que ainda se encontravam na condição de escravos, muitos já tinham adquirido sua liberdade e outros encontravam-se nos quilombos.
Os relatos históricos contabilizam que nesse período do dia 13 de maio mais de 95 por cento dos escravos brasileiros já haviam conseguido a liberdade por meio das alforrias e das fugas. Portanto, a aniquilação da escravidão foi um evento histórico de grande importância e marco fundamental na história do povo negro e de toda a população brasileira. Foi uma notável conquista social e política. Apagam-se as luzes, acabou a festa, voltando a normalidade da vida cotidiana os ex-escravos procuraram distanciar-se do passado de escravidão rechaçando papéis inerentes à antiga condição. Em diversos engenhos do Nordeste eles se negaram a receber a ração diária e a trabalhar sem remuneração. Inegavelmente, os dias que se seguiram à abolição foram momentos de tensão, pois estavam em disputa as possibilidades e limites da condição de liberdade.
Mas é preciso perceber como os ex-escravos buscaram viabilizar suas vidas após a abolição. Na verdade a lei atendeu a um apelo jurídico, foi uma forma de “limpar” nossa imagem de nação que ainda mantinha a mão de obra escrava, aonde na verdade os negros foram para os centros da cidade sem apoio, sem garantias elementares como saúde, educação, moradia, segurança, etc. Tornando-se assim pessoas marginalizadas pelo sistema e excluídas de toda forma de reconhecimento e amparo por parte dos poderes constituídos. O espaço das Senzalas adquiriu as formas dos cortiços e posteriormente das comunidades, das favelas.
O que podemos avaliar com essas leis e que na verdade o processo de luta, a resistência negra, as formas de organização nos quilombos foram para o povo negro muito mais eficazes no sentido de pequenos avanços e na garantia de direitos e condição humana que todas essas leis.
A partir desse momento inicia-se por parte do estado brasileiro uma incansável luta contra os “libertos” as autoridades brasileiras temiam que os negros interpretassem o fim da escravidão como oportunidade para contestar as desigualdades sociais e para promover vinganças. Muitos argumentavam que os negros não se adaptariam a uma sociedade sem rei, feitor e senhor.
Apresentava-nos, assim, o desejo de manutenção de preconceitos raciais, de práticas autoritárias e de relações de dependência que haviam sustentado por tanto tempo a sociedade escravista, portanto a luta continua, sob novos olhares, em novos campos de batalha, contra novos inimigos e aonde o povo negro avança em suas conquistas, traça suas metas e avalia seus desafios, alicerçados em sua cultura, sustentados pela sua fé, carregados de Axé e sob as bênçãos dos Orixás. Fé na luta Sempre!

   
*Professor da Rede Pública Municipal de Ensino, pesquisador, Graduado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, participante do curso de extensão Formação em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – Secad, do Ministério da Educação - MEC, participante do curso “O olhar do outro – o negro no Brasil após abolição” GPEC – Grupo de Produção em Educação e Cultura, pós-graduando em História e Cultura Afro-brasileira e Indígena – FAK Faculdade Kurios.
Referências:
Uma história do negro no Brasil / Wlamyra R. de Albuquerque,
Walter Fraga Filho. _Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais;
Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.
C e m A n o s e M a i s d e B i b l i o g r a f i a s o b r e o N e g r o n o
Brasil
(Obra revisada, corrigida e ampliada – classificação por assunto)
Organizador: Kabengele Munanga



Nenhum comentário:

Postar um comentário